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Domingo da Creepypasta #3

 

Algumas histórias são tão assustadoras que demoram dois dias para serem traduzidas, e esse é o caso da que figura no DDC (ou seria SDC?) de hoje. O Anon que a escreveu aparentemente era obcecado com termos militares e coisas do tipo, o que me obrigou a traduzir muita coisa de forma pouco ideal — e cara, quanta coisa tive de traduzir! Ainda assim, acredito se tratar de uma boa leitura. Espero que goste, leitor!

Como sempre, o título escolhido para a história é de minha autoria (não a história em si, obviamente).  Ela foi postada no 4Chan em 2012 (Caramba!), numa thread sem tema específico. Espero ter feito a decisão certa. Se essa história já foi traduzida antes, não a encontrei dessa forma na internet.

"Lutar ou Correr

Isso aconteceu ano passado, perto do fim de Outubro. E sim, tecnicamente é merda relacionada a airsoft, mas não da forma como você está pensando.

Eu jogo num time bem bom de airsoft, e nós participamos de alguns eventos regionais e nacionais por diversão. Não achamos que estamos no nível de um fuzileiro naval de verdade nem nada do tipo, mas já praticamos simulação militar antes. Eu vivo num estado na região das Montanhas Rochosas no oeste dos EUA, e por aqui tem muitas bases militares. Tem um acampamento num estado vizinho que usa jogadores de airsoft como adversários para o treino prático de soldados das forças especiais. A maior parte dos caras que treina nesse acampamento é da aeronáutica, da guarda nacional ou boina-verde.

Quando os caras das forças especiais (a maioria deles boinas-verdes) vêm treinar, o acampamento entra em contato com times de airsoft da região pra servir de força de oposição contra os militares em treinamento. O treinamento em si inclui CQB [“Close-Quarters Battle”, “combate em ambientes confinados” em português], MOUT [“Operação militar em território urbano”] e SERE [“Sobrevivência, evasão, resistência e fuga”]. Essa última modalidade de treinamento é popular devido ao tamanho gigantesco da área florestal ao redor do acampamento, mas isso geralmente não incluiu o pessoal do airsoft.

Nosso time foi para esse acampamento por três dias repletos de treinamento na área MOUT/CQB para os boinas-verdes. Nós jogamos durante o primeiro e o segundo dia num pequeno campo de treino, e na noite do segundo dia um cara das forças especiais veio nos contar sobre uma chamada que tinha recebido no rádio: um guarda nacional tinha desaparecido. Nós fomos convocados, assim como outros cem caras tanto militares quanto jogadores de airsoft, para participar da busca. A equipe do guarda estava fazendo um exercício de navegação terrestre quando, ao término do exercício, ele não reportou à central. Rádios da guarda nacional foram distribuídos entre os convocados, a preparação dos utensílios de sobrevivência foi feita, baterias extras foram trazidas para as lanternas (comuns e do tipo lúmen) e casacos grossos foram escolhidos (a previsão do tempo apontava para uma queda de oito graus).

Meu time pegou carona num jipe militar até a área onde o guarda tinha desaparecido e começou a procurar: 14 caras divididos em dois grupos seguindo, respectivamente, para o norte e o nordeste. Nosso plano era reportar para a base a cada quinze minutos.

Depois de uma caminhada de vinte minutos o meu grupo chegou até onde o guarda deveria estar, isso é, o local onde o percurso da navegação terrestre terminava. Uma dúzia de outros caras já estava lá, e eles disseram pra gente seguir na direção de uma colina à esquerda e então seguir por uma ravina ao norte. Mais vinte minutos se passam e nós chegamos à tal ravina. Como eu mencionei antes, estava já no finzinho de Outubro e por isso, à exceção dos pinhos, nenhuma árvore tinha folhas nos galhos. Nós andamos por mais alguns minutos na ravina, então subimos por uma trilha até chegarmos na crista de um cume. Estava escuro demais para vermos à frente, e nossas lanternas não eram fortes o suficiente para iluminar por mais de 150 pés [45 metros], então ligamos a iluminação tática de lúmen em nossas armas.

É comum para mim estar na floresta durante os meses de outono/inverno, mas alguma coisa na mata à nossa frente me assustou muito. Todas as árvores estavam mortas, mas o agrupamento delas era próximo demais para que nós pudéssemos reter alguma visibilidade. Dos dois lados da floresta haviam colinas cobertas de pinhos, e a sombra deles bloqueava a luz do luar. Dava pra sentir o nervosismo dos caras do meu grupo, mas encontramos consolo nos números: sete homens armados.

O líder do esquadrão disse que nós teríamos de avançar pela mata porque o caminho por sobre o cume seria perigoso demais no escuro, então nós andamos por mais ou menos 50 jardas [45 metros] até a borda da floresta. Nesse ponto já havíamos contatado a base para avisar onde estávamos e para onde íamos. Nós também divulgamos essas informações em canal aberto, para que o resto da equipe de busca ficasse sabendo. Daí foi floresta a dentro, caminha contínua. Meu grupo manteve contato repetindo “X presente”, X sendo o nome de quem estivesse falando, a cada minuto. Isso era especialmente importante para saber como ia o último da fila e ter certeza de que ninguém estava perdido.

200 jardas [182 metros] floresta a dentro, começamos a ouvir galhos quebrando e ruídos de movimento na direção 11 horas [à frente, ligeiramente à esquerda]. Chamamos pelo cara desaparecido, mas ninguém respondeu. Decidimos pendurar luzes químicas nos galhos mais baixos das árvores para marcar nossa posição para o próximo grupo de busca que passasse por ali e seguimos em frente.

Uma milha [1,6 km] depois, começamos a ouvir gritos muito altos diretamente à nossa frente, talvez a 100 jardas [91 metros] de distância. Nós nos agachamos, cada um de um lado da trilha, e esperamos em silêncio absoluto. Os gritos pararam, e depois de quatro minutos de quietude nós já estávamos prontos para avançar quando a gritaria começou de novo, dessa vez vindo na direção 10 horas [à frente, quase diretamente à esquerda]. Depois de alguns segundos o líder do nosso time tentou dizer alguma coisa mas foi impedido por mais gritos, dessa vez na direção 2 horas [à frente, quase à direita]. Como se já não estivéssemos agitados o bastante, múltiplos gritos começaram a despontar pela floresta à frente. Achamos que só podiam ser animais, já que não tinha mais ninguém na região e só tinha um cara desaparecido.

Continuamos avançando, e os gritos só fizeram continuar. Depois de 150 jardas [137 metros], pensamos que estaríamos no centro do que quer que fosse a fonte dos gritos, mas ela ainda parecia estar à nossa frente. O líder do esquadrão parou, se virou e disse que ouviu água corrente. Avançamos mais alguns metros e encontramos um riacho cruzando a trilha. Atravessamos a água com cuidado, usando as pedras maiores no riacho como degraus, e então avançamos mais 200 pés [60 metros] até chegar numa depressão no terreno da floresta que também servia como clareira. Fizemos uma pausa, nos reunimos e decidimos pegar os animais, fossem eles o que fossem, de surpresa. A gritaria continuava incessante, sem ficar mais ou menos alta conforme andávamos. Coordenadamente e ao mesmo tempo, ligamos nossas lanternas táticas e olhamos para a frente; a gritaria interrompeu-se instantaneamente. Tudo que eu consegui ver foi uma fileira de árvores mortas e cinzentas e escuridão pura atrás delas.

Os cabelos em meu braço arrepiaram-se porque, seja lá o que estivesse gritando, sabia que estávamos ali por conta da luz. Nós nos preparamos para mudar de posição e nos protegermos numa cobertura melhor quando um rugido EXTREMAMENTE alto veio da direção dos gritos. Eu conhecia os sons de ursos, leões da montanha e conhecia os rugidos de várias outras criaturas da floresta, e aquele som não era como nada que eu já tivesse ouvido. Definitivamente não era humano. Todos nós miramos as lanternas da direção de onde o rugido tinha vindo e assumimos posição de tiro de bruços no chão. Ouvi alguns caras sussurrando 'Jesus Cristo' e 'merda', mas todos pararam assim que um outro rugido veio de trás. Poucos segundos depois, rugidos começaram a vir de todas as direções. Um deles, vindo da direção 8 horas [atrás, quase diretamente à esquerda] parecia estar a poucos metros de distância.

O líder do esquadrão ficou agachado num joelho só e disse 'Levanta, pessoal, estamos saindo AGORA' num tom de voz urgente. Todos nós nos levantamos e imediatamente começamos a correr na direção 1 hora [à frente, ligeiramente à direita], que era o direto oposto de onde viera o rugido mais próximo. Eu não me lembro por quanto tempo corremos, só de pular troncos caídos e me esforçar para não ficar preso nos galhos mortos ou escorregar na grama morta. Quando o caminho ficava livre de obstáculos, eu varria os arredores com a lanterna por alguns segundos antes direcioná-la para o caminho à minha frente. O rugido, que continuava de ambos os lados, parecia estar se aproximando. Por sorte eu não cheguei a ver alguma coisa com a lanterna enquanto corria; eu não queria ver, mesmo que fosse ainda pior não ter certeza do que estava nos perseguindo.

Chegamos à margem de um rio e todos os membros do time saltaram uma distância de 12 pés [3,5 metros] por sobre a água devido à adrenalina pulsando nas veias. Do outro lado do rio havia uma colina com alguns pinhos, e nós subimos por ela desordenadamente e nos escondemos atrás das árvores e um esconderijo em potencial por trás das árvores. Mantivemos as luzes nas árvores do lado oposto do rio abaixo. Minha adrenalina estava absurda naquele momento, e todo o meu corpo parecia ter um décimo do peso normal. Aquela tinha sido o momento lutar-ou-fugir mais intenso da minha vida; eu estava anormalmente atento, visão e audição aguçadíssimas. Apesar da descarga de adrenalina, consegui manter meus braços firmes e minha lanterna fixa num ponto do colina a baixo. Depois de alguns minutos nessa posição, percebi que alguma coisa estava tremendo à minha esquerda. Por cima do ombro, vi um colega tremendo com tanta força que seu equipamento militar tilintava ao seu redor. Mudei de posição e coloquei minha mão em seu ombro, mas ele imediatamente me afastou com tanta força que minha mão saiu voando. Eu olhei nos olhos dele, e neles tinha mais medo do que eu jamais tinha visto; as pupilas estavam tão dilatadas que era quase impossível ver o branco do globo ocular.

Digo a ele que estamos bem, e que seja lá o que estava nos perseguindo ficou para trás. Por sorte ele não chegou a enlouquecer de vez, e pareceu entender o que eu disse. O esquadrão inteiro levou cerca de dez minutos para se recuperar do choque. Quando me senti melhor, pedi ao líder do esquadrão para me emprestar o rádio e ele me entregou o aparelho com uma mão trêmula. Tive certeza, então, que era o mais são dentre todos do grupo. Chamei a base no rádio em canal aberto, para que os demais membros do grupo de busca pudessem ouvir, e expliquei o que tinha acontecido. O processo levou cerca de dois minutos, comigo gaguejando e me atropelando ao falar. A resposta que recebi foi uma bagunça de relatos de grupos diferentes que tinham experimentado algo parecido na floresta. Uma onda de alívio se espalhou pelos membros do meu esquadrão; pelo menos iam acreditar na gente.

Decidimos sair da área pouco tempo depois. Traçamos um caminho pelos cumes, onde pelo menos teríamos mais visibilidade, e avançamos por meia milha [800 metros] antes de sermos forçados a descer para o nível da floresta porque o caminho estava ficando estreito demais. Mais um longo período de caminhada nos levou de volta ao mesmo aglomerado de árvores mortas, dessa vez do lado oposto da colina por onde tínhamos chegado. A situação ainda era tensa, por isso nos aproximamos das árvores com as luzes desligadas e sem nos comunicarmos. Quando estávamos a vinte e cinco metros da floresta, vimos algum movimento e imediatamente congelamos. Minha adrenalina descarregou de novo, e eu pensei 'É agora. Não dá mais pra fugir. As coisas vão nos atacar aqui e agora e ninguém da minha família ou meus amigos vai saber o que aconteceu comigo.'

Antes que eu tivesse tempo de ligar minha lanterna para ver o que estava se mexendo no escuro, fomos cegados por um súbito afluxo de luz. 'Grupo de busca?' Leva alguns segundos para reagirmos, mas tanto o líder do esquadrão quanto eu respondemos 'Sim' ao mesmo tempo. Só então a luz foi abaixada, revelando um grupo de caras empoleirados nas árvores. Se meu time estava assustado, eles estavam piores ainda: brancos que nem papel. Eles nos perguntaram se tínhamos ouvido o rugido também, ao que respondemos positivamente, e então contamos da perseguição que tínhamos acabado de sofrer. O líder do outro grupo disse que algo parecido tinha acabado de acontecer com eles, mas em vez de perseguir as coisas tinham rondado até bem pouco antes de o meu time chegar.

Depois de nos juntarmos com os outros caras (haviam quatro deles), nós saímos dali em ritmo de fuga e avançamos para o norte na esperança de encontrar algum outro esquadrão. Cinco minutos de caminhada depois, eu escuto uma batida alta atrás de mim e todo mundo se vira esperando ver o que quer que estivesse rugindo. O que vemos é um homem caído de borco; desacordado, mas ainda se mexendo. Pensamos que ele tivesse sido atacado, mas com gestos sinalizando o peito ele comunica que simplesmente tropeçara e caíra. Tudo que ele fez além disso foi apontar pra direita. Seguindo a direção dele, vimos um pedaço de vergalhão saindo de onde seu pé estava e um pedaço de concreto logo abaixo dele. Nós nos reunimos ao redor do homem caído, alguém o ajudou a se levantar e os dois líderes de esquadrão decidiram checar a área na direção 4 horas [atrás, à direita] para encontrar o resto da estrutura de concreto. A exploração não demorou muito tempo para encontrar uma pequena clareira com um grande quadrado de cimento no meio. Uma grade de metal bloqueava a abertura no centro do quadrado, e uma linha metálica o dividia no meio. Não demoramos para chegar à conclusão de que tínhamos achado um silo de míssil nuclear no meio do nada.

Alguns caras sugeriram que nos abrigássemos lá dentro, mas o resto de nós não demorou para descartar a ideia por ser muito perigoso e potencialmente desperdiçar tempo. Ainda assim, alguns caras acharam a entrada para o silo (basicamente um bueiro a poucos metros de distância) e abriram a escotilha de entrada. Decidindo que apenas dois caras podem ir conferir o buraco por vez, organizamos uma rápida busca no interior do silo. Quando chega a minha vez de olhar, eu direciono a minha lanterna tática para o buraco e ando em círculos ao redor dele para ter uma visão melhor. O que dá pra ver é uma escada que parece continuar infinitamente para baixo antes de desaparecer por completo na escuridão. Tive arrepios só de olhar pra aquilo. É difícil de explicar, mas uma sensação de inquietação se apoderou de mim; era como se alguém, ou alguma coisa, estivesse me encarando logo onde o alcance da lanterna terminava. Eu me afastei do bueiro rapidamente e fui sentar na grade metálica com um dos caras do meu time de airsoft. Ele tremia de leve e, quando olhei para o rosto dele, vi que também estava chorando um pouco. Ele tinha dezesseis anos, o mais jovem do grupo. Disse a ele que tudo estava bem, que tudo terminaria bem, e então respirei fundo e soltei o ar lentamente. Falei para ele repetir o que eu estava fazendo. Respiramos juntos em uníssono por algum tempo, o que nos ajudou a ambos. Os esquadrões chegaram à conclusão unânime de que o interior do silo não faria parte da busca pelo guarda desaparecido depois que dois membros do grupo de busca gritaram pelo nome dele e não receberam resposta. Todos sabíamos, lá no fundo, que ele não estava lá; mas ninguém queria voltar para a base sentindo que não tinha feito o máximo possível para ajudar o guarda. Sendo bem honesto, eu já tinha me esquecido do motivo pelo qual estávamos naquela floresta.

Pouco tempo depois chega a ordem de cancelamento da busca por causa de 'condições adversas'. Os líderes de esquadrão disseram que precisávamos avançar na direção sudeste para nos encontrar com alguns jipes dispensados para nos levar de volta à base. Coletamos nossas coisas e partimos imediatamente. Avançamos em pares e fizemos uma contagem para que ninguém ficasse para trás. Basicamente, durante toda a caminhada, repetimos nossos números de trás pra frente na fila (9, 10, 11! 7 e 8! 5 e 6!). Depois de três minutos em marcha nós ouvimos um gemido grave reverberando por baixo do vale em que estávamos. Dois minutos depois, quando as árvores começaram a ficar próximas demais para continuarmos na mesma velocidade e em duplas, seguimos em fila indiana por uma trilha estreita. Logo depois de vencermos esse gargalo no caminho ouvimos um grito agudo imediatamente sucedido por um rugido de gelar o sangue. Ele ecoou três vezes na floresta, e a partir daí entramos oficialmente em pânico. Começamos a correr, correr de verdade, pelo resto do caminho (coisa de pouco mais que uma milha) enquanto recitávamos nossos números desordenadamente. Dos onze que compunham o grupo, só cinco eram homens feitos e mesmo os mais jovens, à exceção de um, eram velhos o suficiente para votar; e ainda assim não houve uma voz que não soasse aguda de medo. Era possível ouvir a urgência crescendo nas vozes. Comecei a me sentir zonzo por causa da corrida, mas de alguma forma me forcei a continuar em frente até ouvir uma batida grande atrás de mim e um suspiro dolorido que normalmente sai de uma pessoa depois de ela cair com força no chão.

Falei pro cara que tava correndo comigo parar, e ele obedeceu a tempo de ver o sujeito que vinha correndo atrás de nós rolando devagar pelo chão. Nós corremos até ele, passamos os cada um dos braços dele sobre nossas cabeças e o levantamos. Nesse momento eu vi, de relance, o vulto do que quer que estivesse nos perseguindo. Não conseguiria descrever o que vi; era difícil discernir formas exatas no escuro denso da floresta. Parecia maior do que qualquer urso que eu já tivesse visto. Quando viramos nosso colega na direção certa e nos preparamos para continuar correndo, notei que uma tora com 8 polegadas [20 centímetros] de grossura que eu tinha pulado pouco tempo antes estava agora partida no meio e espalhando farpas para todos os lados. Alguma coisa rugiu 10 pés [3 metros] em meio às arvores à esquerda, e aquela foi nossa deixa pra vazar LOGO dali. Lembro do que aconteceu depois em flashes. Lembro de ver luzes apontando pra gente enquanto corríamos as últimas jardas em direção aos jipes levando no ferido nas costas. Ele gritava 'Eu não quero ser o último! Me deixa entrar no carro primeiro, por Deus, deixa eu ir primeiro! NÃO ME DEIXA PRA TRÁS EU NÃO QUERO SER O ÚLTIMO!' Nunca ouvi tanto pânico na voz de alguém, antes e depois dessa ocasião. Quando estávamos mais próximos dos jipes eu olhei pra cima e vi um artilheiro mirando a metralhadora .50 na nossa direção. Eu vi medo nos olhos dele, e ele não fazia parte do grupo de busca; fazia parte da Guarda Nacional, pelo uniforme, e estava aterrorizado. Jogamos o ferido no banco de trás do terceiro jipe, daí o cara que me ajudou a carregar ele entrou logo atrás e eu saltei sem esforço na área de carga do carro. O artilheiro gritou 'Contato! 3 Horas!' e perguntou se podia disparar, mas o comandante no veículo respondeu negativamente. Ninguém disse nada no caminho de volta à base.

Quando voltamos, até os boinas-verdes estavam de olho no horizonte com olhares preocupados. Os guardas nacionais estavam surtando, e o resto de nós tremia que nem vara verde. Ninguém estava em condições de responder perguntas.

Eu não sei o que vimos lá, mas não era urso ou leão da montanha. Fosse o que fosse, os militares estavam prontos pra entrar em combate e ligações foram feitas pedindo reforços.

Tive arrepios enquanto escrevia isso. Nunca contei essa história antes.

Desculpem pelo tamanho da história. A propósito, isso aconteceu numa base militar em Wyoming no ano passado. Aparentemente, nunca encontraram o guarda desaparecido.

Basicamente, é isso. Os comandantes da base ordenaram que nunca falássemos sobre o acontecido e nos mandaram embora. A maior parte de nós demorou semanas pra superar – e 'superar' aqui quer dizer parar de pensar no assunto todo dia, todo momento. Toda vez que vejo árvores mortas durante a noite, meu estômago fica revirado e fico com dificuldade de respirar. Desde então, parei de acampar."

Para ver a thread original em que essa história foi postada, clique aqui.


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